quinta-feira, 2 de junho de 2011

Luiz Coronel em homenagem à 27ª Feira do Livro.

Dez reflexões de um escritor homenageado.

1.           O livro e o mundo:

Nem as escavadeiras ou dinamites abrem tantos caminhos quanto os livros. Eles voam, qual aviões; mergulham fundo, tal submarinos. Testemunhas de nossos sonhos e pesadelos, ao abrirmos as páginas de um livro, abrimos janelas para o mundo. Quem lê vai longe.

2.           A Feira do Livro de Canoas:

O tempo consolida e confere respeito e crescimento ao que tem por pilares mérito e grandeza. Vinte e sete anos da Feira do Livro de Canoas.  Qual lampadóforos gregos, alcançando a tocha nos Jogos Olímpicos, sucessivas administrações municipais cumpriram à risca a incumbência de manter acesa essa chama do saber, essa motivação ao conhecimento.

3.           As crianças:

Devemos amar as crianças pelo que elas são e por tudo que poderão vir a ser. E eu lembro Fernando Pessoa: “por melhor que sejam as festas e as danças o melhor do mundo são as crianças”. Quero com isto salientar a atenção, prioridade conferida às crianças pela Feira do Livro. É sabido que a “Criança é o pai do homem” e que é na infância que se plasma, consolida o gosto pela leitura.

4.           A globalização:

Permitam-me abordar o tema globalização. A primeira delas, feito dos romanos. A segunda, a grande aventura marítima dos portugueses. Agora, uma terceira e mais abrangente: a revolução da informática. O mundo tornou-se instantâneo. É fato, está acontecendo e já virou notícia. Disse um jovem ao pai: “Tu sabes tudo o que passou. Nós sabemos de tudo que acontece agora”. Sem dúvida, uma nova geração desponta, com novos instrumentos para seu relacionamento com o mundo.

5.           As gerações:

Cada geração tem a vaga, imprecisa e inconsistente impressão de que o mundo começa com seu surgimento na paisagem humana. No entanto, somos e seremos sempre herdeiros e legatários de uma herança cultural que percorre o tempo. Ao acendermos uma lâmpada, devemos agradecer a Thomas Edson. A cultura é transmissão de conhecimento, de conquistas e desafios. Shakespeare, Machado de Assis, Mario Quintana não pertencem a um tempo, pois a arte, quando verdadeira, eterniza-se como patrimônio da humanidade.

6.           A comunicação:

E aqui chegamos ao fenômeno comunicação, e, por vias diretas, ao livro. Nem toda informação é conhecimento, nem todo conhecimento é cultura. Cultura é o que instrumentaliza o homem em sua relação com a sociedade, com seu tempo, com seus projetos, consigo mesmo. O livro, a partir de Gutenberg, torna-se um dos mais esplêndidos fatores da democratização da cultura. São os poetas, tratando as mil nuanças das palavras, os romancistas, destelhando as vidas para bem senti-las, historiadores, ensaístas, todos comprometidos com o conhecimento. Louve-se o livro, pois sem ele é a treva. “O livro é a maior revolução”, disse Victor Hugo.

7.           O jornalismo:

O jornalismo soletra o mundo de forma ágil, rápida, instantânea e necessária. Salvo honrosas exceções, cria informações, mas é efêmero seu comprometimento com a conscientização do significado dos fatos que narra. A sociedade contemporânea criou a figura do alienado informado: sabe de tudo, mas não tem consciência, em profundidade, de nada. Então surge, majestoso e digno, o livro, propiciando um conhecimento paciente, silencioso, profundo e verdadeiro da vida, da história, dos fatos.

8.           O Brasil e a leitura:

Somos um dos países de menor índice de leitores. E pior, um dos últimos na aferição de capacidade de decodificação lógica ou sensível do que lê. Não se constrói uma nação com cidadania verdadeira se não contarmos com uma coletividade competente para pensar, avaliar, decidir, participar. As pedras, lajes que pavimentam este caminho são constituídas por livros. Na linguagem das pedras, se construiu palácios para expressar o poder; muralhas, a propriedade; cárcere, as punições; lápides para exprimir a morte; torres, para erguer catedrais. Com o livro, construiu-se um monumento às ideias.

9.           Educação e leitura:

Jorge Luís Borges escreveu: “o arado, a espada, constituíram-se com extensões das mãos, o livro, uma extensão da imaginação”. Bendito seja quem aprende para saber e abençoado quem sabe para ensinar. Senhores mestres, senhoras professoras, senhores pais: em vez de armas, grifes, frivolidades... Livros, muitos livros às nossas crianças. A cada hora de TV, duas horas de leitura. Uma lâmpada de cabeceira é um farol a iluminar nossas vidas. “O livro é germe que faz a palma, é chuva que faz o mar” disse nosso imenso Castro Alves.

10.      Palavras e imagens:

“Enquanto houver perguntas e não encontrar as respostas, continuarei a escrever.” Já vão lá cinquenta livros editados. Sinto certo orgulho de coordenar e editar a coleção dicionário para o Grupo Zaffari. Escrevo com acesa paixão, quando o tema é o Rio Grande. Criar é parir “uma estrela bailarina”. Cultuo a palavra. Se a imagem cintila uma impressão, a palavra, a frase, constroem conceitos. Como lembrou Saramago, ainda é possível verter lágrimas sobre as páginas de um livro, mas não creio que o mesmo aconteça sobre uma tela de computador. Ler, um dia escreveu o Quintana, é a melhor maneira de estar sozinho e ao mesmo tempo bem acompanhado. O muito, ou pouco, que alcancei em minha vida, credito aos livros.

Luiz Coronel

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